domingo, 20 de julho de 2008

Pra não dizer que não tentei falar da flor





Não espere flores
não sou do tipo que sabe descrevê-las
quando o fizer
saiba que há em mim
um momento raro sendo vivido

e mesmo que não consiga descrevê-las com perfeição
vou usar dos meus modos e minhas mãos
para plantá-las naqueles suaves jardins
aqueles que você há de passar pela manhã
a colorir árvores e sombras
como só você sabe fazer
com tuas cores
que só as flores
poderiam descrever.



Irei lapidar meus versos
só pra provar
que não precisarei de flores
quando as descrever
vou estar pensando nas cores
nas exatas cores da minha flor
a mais bela do meu suave jardim
Aquela que vem caminhando
sorrindo e olhando pra mim
com aquele abraço esperado
aquele beijo não declarado
e eu olho daqui de longe
vejo eu mesmo
entre as flores
perfeito diante tua perfeição
que nunca conseguirei detalhar.
Há coisas que só sente quem tenta descrever as flores.
Pra você eu nunca precisarei explicar.
Você já me tangeu com tuas cores.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A Metáfora



Sem cabeça para rolar.
Sem pescoço pra cortar.
Cem palavras a desentalar
Quero sangue, calmaria, maré alta e águas tranquilas.
Mas é raso onde pulo
de cabeça
propositalmente
por ser raso
pra se fazer fundo.
Quando a garganta transborda
nada a faz parar.
Mesmo que engolir meus próprios dentes
possa me sufocar.
Tenho sangue na boca a jorrar.
Meu estômago, uma ameixa seca.
Minhas mãos, gélidas luvas plásticas.
Meu corpo, coberto de açúcar
Por todos todos lados.
Mas meus olhos lacrimejam gotas
de amargo limão
amarelo cravo
queimando a doçura padrão.
Em minha boca, sangue a jorrar.
E não é meu.
Nem teu.
Acalma-te.
Depois do sangue, a calmaria.
Apresento-lhes,
Epilepsia, a metáfora.

- Quero só deitar um pouco aqui no teu colo antes de ir embora,
está bem? - Falo eu, febril.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Tirocínio da Morte









Um velho trôpego que andava sobre o chão,

se deparou com uma viola ali jogada.

O velho se agachou,

ralhando com as dores nas costelas.

Pondo a ralar os joelhos castigados,

pegou a viola com a mão esquerda de um canhoto

outrora habilidoso em seus ponteados.

Ali, ele refez viola.

Tocou os mais velhos clássicos

da música interiorana.

Lembrou seus ídolos.

Lembrou suas origens.

Fez música para a terra se alimentar.

Fez da viola carne e osso.

Sentiu o toque de cada uma das dez cordas em seus dedos.

Ressoava em seu coração

uma melodia da velha terra pisada.

Era a viola quem tocava o velho.

Era ele o alimento da terra.

E o velho se tornou um instrumento rústico,

jogado por ali.

A terra a lhe consumir.

O coração a ressoar,

a velha melodia que esqueceram de ensinar

Quando se acaba a canção,

Nao é preciso chorar.