quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O Jardim





São belas as pegadas na grama, que meus olhos apreciam quando me viro pra recordar de como cheguei aqui.
Estou no centro do jardim.
É forrado de grama fofa, folhas secas, outras não..
Tem cheiro de frutas cítricas.
Mas não vejo árvores, ou seus frutos pelo chão.
Mesmo sem as sombras das árvores, o sol não é escaldante. É ameno...
É quente e gostoso, como um sol de inverno e tua labuta contra o sopro gelado das nuvens que assopra meu cabelo.
Jardim, que não é suspenso, mas suspende céus para acomodar ali até o gigante deus da distância que se submete calado e impotente, humildemente ajoelhado à pequena flor.
Perdão, quase esqueço de lhes contar quem silencia os pássaros com sua pétala desprendida ao vento que a conduz a um repouso, como anjos a conduzir as vestes da deusa do amor.
És flor, a única vida que do jardim provém. Dizem que o jardim só se fez após o nascimento da Flor, e não ao inverso como de costume, como nos convém. O jardim não ousaria existir antecedendo o desabrochar da Flor. Seria inimaginável.
Aos meus pés, ao centro do jardim, vejo a Flor. Não conseguiria descrever-lhes a beleza nem as lágrimas, sabe só quem a vê. Posso garantir-lhes que és pequena flor, despretensiosa flor. És também imensa como a beleza do céu, agora suspenso, substituído pela beleza incomum do essencial.
És única no jardim, não por desdenho às outras. Mas as outras, serão sempre rosas putres à simples essência da Flor. São feitas de papel. A Flor é feita de poesia.
Submeto-me à existência da Flor e me deito na grama fofa. Ela é linda, encantadora. Canção de amor materializada.
Enraizada no meu jardim.
Se querem saber o que fiz depois, vos digo.
Nada. Eu estou ali a contemplar a Flor até agora.
E você há de me encontrar ainda lá, outrora. Mesmo que todo o resto se esvazie e vá embora.
Ainda estarei lá, quando a vida for só um pequeno papel de rascunho já amassado e lançado tempo afora.