quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Acorde



Vivo entorpercido
Não embriagado como antes
abstinência
quando me encontro num buraco, o mesmo de sempre
caindo para o fundo uma palavra é o ópio
ela vem, me entorpece e vai embora
por algumas horas são meus momentos de dias inteiros
Quase animado, aliviado, eu esboço um sorriso
contrariado
sei que logo vai passar
É duro sorrir sabendo que um sorriso tem vida útil

Entende do que falo?

"Pra onde vai uma canção depois do acorde final?"
Começá-la
Se emocionar com os versos
o trovejar de um estribilho
o encantamento dos olhos, reflexo do ouvido
mas sabe-se que a canção tem fim
e que se a mesma nota que começa não termina
termina-se de outro jeito
mas termina
Pode-se repetí-la quantas vezes quiser

mas pode-se ter a certeza que nunca será igual
não pelos acordes, pelas notas
mas pelos timbres que um ouvido nunca ouviu

Entende do que ouve?

Ouvir algo estranho
ouve sem saber exatamente porque é o melhor pra se ouvir
mas ouviu, e se embriagou
ouve e se entorpece
Há o que escutar, sobre o que ouviu
Mesmo que a ressonância do último acorde
é o que me entorpecerá até minha mão falhar
e as cordas trastejar.

1 Cortesia(s):

Juliana Porto disse...

Renan,
Não deixo de apreciar e me sentir tocada pelas tuas palavras.
Rediges o que meu silêncio berra!
Então, quase muda, digo, harmoniosamente:
Ler-te é um dos meus maiores prazeres.
Deslumbrante!